Cicatrizes que o tempo não apaga

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Quando o esporte ensina sobre dor e humanidade

Tem tragédias no esporte que deixam a gente sem chão, e sinceramente, é imopssível coloca-las em uma ordem de qual marcou mais ou menos, todas mexem com o público de um jeito muito pessoal. São momentos que marcam, que viram cicatriz, que a gente nunca mais esquece.

1- O acidente do Schumacher: quando os Alpes mudaram a vida de um dos maiores pilotos da história

Foto reprodução via Flickr: @zastita.net

Pra mim, é inevitável não começar com esse, afinal todo mundo que me conhece sabe o quanto eu sou fã do Schumacher e esse é um acidente que mexe particularmente comigo.

Foi no fim de 2013, eu ainda me lembro da sensação que senti ao ver a notícia: um acidente de esqui, a necessidade do resgate por helicóptero, a mudança para um hospital com mais recursos. A primeira reação (para a maioria) foi pensar “Ele tem dinheiro, tem recursos, tem acesso aos melhores médicos, ele vai ficar bem”. Aqui de for ficamos esperando a notícia de que ele estava bem e que era só um grande susto, mas essa notícia nunca veio.

Acho que todo fã do Schumacher ainda carrega isso, aquela expectativa frustrada, o vazio e o silêncio. A gente não sabe como ele está, a família que sempre foi muito reservada, manteve essa postura depois do acidente, e o fã de verdade respeita, mas isso não diminui o anseio por saber como o ídolo esta hoje.

2 – Chapecoense: o Brasil em luto coletivo

O segundo momento talvez seja tão marcante quanto o primeiro. Dia 29 de novembro de 2016. É impossível esquecer o que foi acordar naquela manhã, ligar a TV, abrir o celular e ver que a Chape nunca chegou para a final da Sul-Americana. Um time pequeno de Santa Catarina estava vivendo um sonho muito maior do que imaginavam, e de repente, tudo acabou ali.

A dor foi coletiva. Pela primeira vez em muito tempo, o futebol deixou de lado as rivalidades. Só tinha abraço, só tinha apoio, só tinha o Brasil inteiro querendo estar perto das famílias, dos amigos, dos jornalistas que perderam colegas. Eu lembro do choro, da incredulidade, do país inteiro em luto. E lembro da força dos que sobreviveram: Alan Ruschel, Neto, Follmann. Eles não perderam só colegas, perderam amigos, companheiros de vida. E seguiram, mesmo com a dor.

3 – Ninho do Urubu: o sonho interrompido pela negligência

Infelizmente, não foi o único episódio. Todo mundo lembra do incêndio no Ninho do Urubu, em 2019. Aqueles meninos estavam só tentando realizar um sonho. Queriam ser jogadores, só isso, e perderam a vida por descaso, por falta de manutenção, por negligência. Porque alguém achou que era caro demais fazer uma reforma, reforçar a estrutura, garantir segurança.

Dez meninos morreram. Dez famílias destruídas. Por ganância, por irresponsabilidade. E o vazio ficou. Porque não era só futebol. Eram sonhos. Eram futuros arrancados de forma brutal.

4 – Eriksen e o alerta sobre o quanto tudo pode mudar num segundo

A gente também lembra do caso do Eriksen, que pelo menos teve um final diferente. Todo mundo lembra daquele dia, na Eurocopa de 2021.

Ele caiu em campo, parada cardíaca, o mundo torcendo, esperando, rezando e pedindo em sua crença que o susto passasse. A sensação de alívio quando ele voltou a jogar foi inexplicável, mas ficou o alerta. Tudo pode mudar num segundo.

7 – Jules Bianchi: a lembrança dolorosa da Fórmula 1

No automobilismo, impossível não lembrar do francês Jules Bianchi. Em 2014, no GP do Japão, um trator mal sinalizado durante uma bandeira amarela e a baixa visibilidade causaram o um acidente gravíssimo e ele entrou em coma.

Foram meses de luta até a notícia da morte, em 2015, e de novo, o vazio de ver uma vida partir e um sonho de apagar. A Fórmula 1, que tanto encanta, mostrava mais uma vez o lado mais cruel da velocidade.

As tragédias são sobre esporte, mas, acima de tudo, sobre vidas

Eu sei, pode parecer só esporte para quem vê de fora, mas para quem vive, para quem ama, para quem acompanha cada história, não é só futebol, não é só automobilismo, não é só mais um atleta ou um esporte. É sobre vidas, sonhos, famílias, futuro e, quando essas tragédias acontecem, a gente percebe que o esporte também carrega a nossa humanidade, com tudo o que ela tem de bonito e de cruel.

Porque as cicatrizes ficam, e o tempo não apaga

O que o tempo faz é ensinar a conviver com o vazio, com o silêncio, com a saudade, mas apagar? Não apaga. Cada tragédia dessa deixa uma marca, e essa marca vira parte da gente. Talvez isso também seja parte do esporte, a paixão que nos move, mas que também nos lembra o quanto somos frágeis.

O esporte emociona, inspira, mas o esporte também sangra, também é frágil e é nessa mistura de paixão e dor que a gente segue. Com cicatrizes que o tempo não apaga, mas que, de alguma forma, ajudam as regras a evoluírem e a segurança (para os que ousam sonhar) aumentar.

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